terça-feira, dezembro 05, 2006

Engenharia X Reprovação


por Felipe Pinheiro e Luisa Rotsen


Era uma vez um rapaz que tinha boas notas no colégio, nunca pegava recuperação, estudava um ou dois dias antes das provas e assim mesmo se dava bem. Aí ele entrou pra faculdade e... bumm!! Uma reprovação ali, outra aqui, e o pobre bom aluno nunca mais foi o mesmo. Identificou-se com a história? É bem provável que sim...

Um levantamento realizado pelo professor Pedro Donoso Garcia, subcoordenador do curso de graduação em Engenharia Elétrica, confirmou o que nós já sabemos: os índices de reprovação entre os alunos do curso são altíssimos. A pesquisa, elaborada em fevereiro de 2005, inclui as turmas do primeiro e segundo semestres de 2001 a 2004. “Foram analisadas todas as disciplinas obrigatórias desde o primeiro ao sétimo período. Observamos que os alunos em geral apresentam média B nas disciplinas do ICEX e depois caem para D nos períodos mais avançados”, conta o professor.

Para se ter uma idéia, contabilizando apenas os alunos que cursaram as disciplinas até o final (descontando as desistências e trancamentos), matérias fundamentais como “Análise de Sistemas Lineares” e “Eletrônica I” apresentaram média de reprovação equivalente a 31%. Em “Análise de Circuitos Elétricos II” 36,3% dos alunos ficaram com conceito D e 26% foram reprovados, em média, entre 2001 e 2004. Pedro Donoso acredita que esses índices de reprovação são um problema muito sério. “O nosso curso tem conceito A no provão, o que indica que nós somos eficientes. Mas será que estamos sendo eficazes?”, pontuou o professor em entrevista ao RESISTOR.

As reprovações assim tão recorrentes já são consideradas comuns nos cursos de engenharia. De acordo com a Folha de São Paulo, a Engenharia Elétrica foi apontada como o curso de graduação mais difícil entre os 26 que participaram do provão de 2003. De todos os formandos nesta carreira que prestaram o exame, 18,3% acharam que a graduação deveria ter sido menos ou muito menos exigente. Já em outros cursos, como o de jornalismo, por exemplo, só 2,3% dos formandos disseram que a graduação deveria ter exigido menos ou muito menos. “Acho que o problema principal é a carga horária muito pesada. Muitas vezes a gente tem que optar por uma disciplina porque não dá tempo de estudar o suficiente pra todas”, diz o aluno Charles Bruno.

Os colegas Pedro Carvalho Pfeilsticker e Christian Pinto de Souza, do 5º período, acham que a carga horária não é o principal problema, mas sim a falta de motivação dos alunos. Segundo eles, pra passar não basta saber a teoria, mas tem que ter prática nos exercícios. “Os alunos acabam se dando mal porque falta um pouco de visão de conjunto, de aplicação mesmo. Muitas vezes a gente estuda uma matéria sem ter a mínima idéia de onde e como aquilo vai ser aplicado, e isso desmotiva”, concordam.

Boa Notícia

O coordenador do curso de Engenharia Elétrica, professor Alessandro Moreira, contou ao RESISTOR que acaba de ser finalizada uma avaliação completa do curso. Nos últimos três anos o Colegiado analisou os principais problemas da nossa graduação, como a perda de rendimento, estudou formas de melhoria e propôs uma nova versão curricular que deverá entrar em vigor no próximo semestre. A Reforma Curricular tem como objetivos principais: reorganizar os grupos de disciplinas optativas e garantir sua execução correta, distribuir melhor a carga horária do curso e privilegiar os conhecimentos considerados básicos da formação do engenheiro eletricista. “É importante que um engenheiro eletricista tenha os conhecimentos fundamentais das diferentes áreas que compõem a carreira. O aluno que cursa o certificado de Sistemas de Energias, por exemplo, deve ter pelo menos uma noção básica de comunicações”, afirma o coordenador.

Agora é só esperar, conferir as vantagens, pesar as opções e decidir entre migrar ou não para a nova versão curricular. De acordo com o coordenador Alessandro, não haverá dúvidas de que a Reforma oferece a alternativa mais adequada aos alunos.

2 comentários:

DTR disse...

Sou estudante de engenharia elétrica e realmente as pesquisas apontadas não são novidades. Geralmente quem entra em universidades públicas são os melhores alunos do colegial, no entanto essa "fama de ótimo aluno" acaba no curso de engenharia.

Unknown disse...

Primeira nota vermelha que tirei na vida veio na faculdade de engenharia.